A greve que tem estado a decorrer na atividade portuária
afeta apenas os grandes portos de Lisboa e Setúbal, estando a trabalhar
normalmente os portos de Viana do Castelo, Leixões, Aveiro e Sines.
A greve tem como objetivo combater a nova
Lei do trabalho portuário que permite que as zonas de atividades
logísticas e armazéns que venham a existir no futuro junto aos portos
não sejam obrigadas a contratar mão de obra da estiva.
Independentemente da justeza das posições de cada um
dos lados, é um facto que, dos grandes portos nacionais, apenas os
portos de Lisboa e Setúbal são afetados.
A greve está a afetar um dos turnos diários, todos os
dias, reduzindo a metade a capacidade dos terminais e criando enormes
filas de espera de navios, levando mesmo navios e linhas marítimas
regulares de contentores a desistir de esperar, pois não podem perder a
marcação de cais que já têm nos seus diversos portos de escala da linha,
pelo que não podem esperar. A compressão do tempo na logística e no
shipping dos contentores não permite hoje esperas dos navios por cais
livre em nenhum porto.
Ou seja, os navios de contentores que escalavam Setúbal até ao Verão, estão a optar por outros portos, como Leixões ou Sines.
Se no caso do porto de Lisboa, as linhas de
contentores que saírem agora temporariamente para outros portos,
depressa voltarão ao porto de Lisboa quando acabar a greve, o mesmo não
se passará com o porto de Setúbal.
É que no caso de Lisboa, a carga está na margem norte
do Tejo em torno de Lisboa, e fica muito barato movimentar a carga
pelos terminais do porto de Lisboa. Depressa retornará.
Já em Setúbal, as novas linhas de contentores que o
porto tem vindo a captar nos últimos anos, têm escolhido Setúbal devido à
qualidade de serviço e à política comercial dos terminais e da autoridade portuária, apesar de a carga ser do norte
do Tejo ou mesmo do norte do País, embora exista alguma base na carga
da Portucel.
Mas com as greves, as linhas de contentores deixam de
escalar Setúbal, experimentam escalar outros portos como Sines ou
Leixões e poderão mudar em definitivo. Esta carga não é cativa do
hinterland do porto de Setúbal, e muita aqui chegava por comboio vinda
de longe.
Uma vez mudada a logística das linhas de contentores
para outros portos que estão em funcionamento e funciona bem sem greves,
dificilmente voltarão ao porto de Setúbal.
O que está em causa para a região?
a) Redução dos postos de trabalho na estiva em Setúbal, que aumentarão em Leixões e Sines, ou mesmo em Vigo ou Algeciras;
b) O novo mercado de
contentores proporcionado pelas linhas de navios porta-contentores que
começaram a crescer exponencialmente no porto de Setúbal nos últimos
anos, fruto do esforço de décadas da autoridade portuária, rapidamente
pode desaparecer e muitos anos demorará outra vez a retomar a confiança;
c) O novo mercado de
contentores no porto de Setúbal é o único mercado portuário que pode
crescer de forma sustentada no futuro, uma vez que o crescimento médio
anual é de 7% a 10% a nível nacional e mundial;
d) A carga contentorizada possui elevado valor, carecendo de inúmeros serviços auxiliares e de logística associados, criando emprego na região;
e) As linhas de contentores em Setúbal, que estava a desenvolver-se, proporcionariam:
a. Competitividade às empresas da região, que poderia exportar com menores custos de transporte terrestre;
b. Criariam um pólo em torno do porto neste novo mercado de empresas especializadas em serviços para este tipo de atividade;
c. Criariam um pólo
industrial e logístico novo na região que poderia crescer muito
rapidamente, criando emprego para o futuro, fruto da possibilidade de
escoar contentores na exportação para qualquer lugar do mundo;
d. Atrairiam investimentos na logística e indústria.
No fundo, o mercado dos contentores que estava a
desenvolver-se no porto de Setúbal poderia ser uma forte aposta
estratégica para voltar a região para a logística e as atividades
industriais exportadoras de mercadorias de elevado valor, que agora é
posta em causa por esta greve dos portos, colocando em causa milhares de
postos de trabalho para o futuro e os próprios postos de trabalho dos
estivadores e futuros estivadores no porto de Setúbal.
Ganham as regiões de Leixões e Sines.
Como setubalense e portuário deixa-me muito
triste ser mais uma oportunidade perdida para uma região tão fustigada
economicamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário