2 de outubro de 2012

O sonho de Pedro Passos Coelho (Por José Vítor Malheiros)

 *O sonho de Pedro Passos Coelho*

  «"Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a
verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.

Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram
inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para
espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que
ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes
sub-humanos.****
 ****
Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o
terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem.
Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os
recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com
um milhão de analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para
a sociedade do conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a
viver à conta. Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa
duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os
velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os
nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. E os
deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa
suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da
sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.****
 ****
O outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns
operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que mandam no país
só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com
as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar à escravatura - é
outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade é que as sociedades
evoluíram muito graças à escravatura. Libertam-se recursos para fazer
investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das
classes abastadas, que também precisam. A chatice de não podermos eliminar
os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para
fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam - ainda
que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. O que é preciso é acabar
com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e
vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem
que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a estabilidade
do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem
manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem
trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E
enchê-los de futebol e telenovelas e *reality shows* para os anestesiar e
para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.****
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O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços
essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os
convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de
mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver
com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os
desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde deles não podemos
pagar a saúde dos pobres.****
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Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço
comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é que a
pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse
assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe
dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em Massamá a vida
toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós
também vamos poder pertencer à elite."»
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