O porto de Aveiro é uma plataforma estratégica para o tecido produtivo das regiões Centro e Norte de Portugal. Encerrando agora um ciclo de investimento realizado ao longo da última década, esta infraestrutura portuária assume-se como fator primordial de competitividade nas exportações da indústria nacional, enfrentando, "com alguma tranquilidade o futuro" próximo.
"Os portos nacionais têm de se adaptar às necessidades do mercado e às novas rotas" e foi por esse motivo que o porto de Aveiro iniciou "um ciclo de investimento há cerca de dez anos" e que agora se encerra, começou por explicar José Luís Cacho.
Presente no pequeno-almoço/debate, organizado na passada semana pela "Vida Económica", o Presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro afirmou que as melhorias implementadas "eram fundamentais para a viabilidade do porto" e que "todos os investimentos foram direcionados numa lógica de servir a região" e de "alargamento da área de influência a Castela-Leão", pois "não podemos esquecer que é importante ter uma visão ibérica e não só uma visão nacional".
Fazendo um balanço claramente positivo dos investimentos realizados, o responsável máximo da infraestrutura salientou ainda que os objetivos para os "próximos 4 anos" passam agora por "atingir os 5 milhões de toneladas e amortizar o investimento".
Igualmente presente no evento, Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, destacou por sua vez que os investimentos recentes no porto de Aveiro transformaram esta infraestrutura numa verdadeira plataforma multimodal. "Já existia a relação no módulo marítimo com o módulo rodoviário, e agora temos também o módulo ferroviário, que chegou há dois anos, e que nos permite disponibilizar uma oferta logística completa e integrada aos operadores, o que é muito importante". Recordando que o Governo tem a opção política, "correta e sensata", de dar primazia à ligação ferroviária Aveiro-Salamanca, o presidente da Associação Oceano XXI explicou que tal possibilitará a criação de "um corredor novo" e de "importância extrema" para "maximizar as capacidades do porto de Aveiro".
Questionados acerca do impacto da greve dos trabalhadores portuários, que se arrasta desde 17 de Setembro na atividade diária do Porto de Aveiro, os convidados admitiram que, desta vez, este "é muito mais grave" do que aconteceu num passado recente, sobretudo porque "esta foi uma greve organizada para o prejuízo", pois "foi coordenada e programada para o máximo possível de portos aderirem" e "para não haver trabalho". Na prática, afirmou António Azevedo, representante da Trana - Agentes de Navegação, a paralisação "começou na estiva e alargou-se aos vários serviços portuários, incluindo pilotos", até ao ponto em que "não adiantava ter os navios ao cais".
Recordando que "esta greve tem um enquadramento histórico" e que "os problemas dos portos, em Portugal, não são novos", Ribau Esteves admitiu igualmente a gravidade da atual paralisação e explicou que "em Aveiro tudo é muito mais grave do que nos outros portos", pois esta é uma infraestrutura de "oportunidade" para um importante conjunto de empresas da região que, não podendo usufruir das vantagens competitivas deste porto, "vão ter de usar um outro (Leixões) que fica mais longe, agravando a sua fatura de custos".
Salientando o facto de o país só ter "dois portos a trabalhar com normalidade", pois "Sines e Leixões têm um acordo de paz social para trabalhar, crescer e desenvolver", o Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo alertou ainda para o facto de esta situação colocar dificuldades acrescidas à exportação, "única operação económica que está a ajudar a economia nacional", e defendeu existir "matéria que baste para o Governo acionar os mecanismos de requisição civil".
"O Estado não pode ficar refém de um conjunto de interesses privados, que põem em causa a concorrência de um setor que é tão fundamental para a economia portuguesa. A própria 'troika' salientou isso, que é preciso haver mais concorrência nos transportes, comunicações e energia", completou José Luís Cacho.
Maior competitividade dos portos nacionais passa por melhor organização
Confrontado com o plano do Governo para reduzir em 25% a 30% os custos nos portos nacionais, o responsável do Porto de Aveiro garantiu que "os portos portugueses são relativamente competitivos em termos de tarifa" mas admite existir margem para melhorar em termos de produtividade. "Se verificarmos, 80% do custo da fatura portuária é mão-de-obra e esse custo tem margem para atingir os objetivos, o que seria um sinal importante para as nossas exportações". "Mais do que uma redução drástica dos postos de trabalho, esta é uma questão de competitividade e organização de trabalho" e "esse é um trabalho coletivo de todos, desde as administrações, trabalhadores e empresas", rematou.
Alinhando pelo mesmo prisma, Filomena Marques acrescentou, todavia, que "parte da competitividade tem a ver com uma estratégia mais concertada" dos portos nacionais. "Existem condições e recursos, humanos e materiais, mas depois todos estão de costas voltadas" e "a nossa capacidade de promoção e organização, muitas vezes, é nula", lamentou a representante da M&G Consulting. Perante esta realidade, a consultora avisou ainda que seria "importante termos uma estrutura nacional mais organizada internacionalmente, algo que os espanhóis conseguem ter".
A terminar, Filomena Marques lançou ainda uma provocação ao setor e afirmou que "as pessoas que estão na direção são as mais resistentes à mudança", pelo que a estrutura base "vai ter que mostrar à estrutura administrativa que é necessária a mudança". "As greves são más, mas, se calhar é necessário para que se faça alguma coisa para mudar", sentenciou.
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1 comentário:
Para o Engº Cacho:
"80% do custo da factura portuária é de mão-de-obra",refere o Sr. Engº Cacho!De que mão-de-obra portuária e de que porto, está a falar?! Se se refere ao porto de Aveiro e em exclusivo à mão-de-obra envolvida numa operação portuária típica do mesmo porto, tenho que lhe dizer que não acredito!O total da factura portuária global teria que ser muitíssimo baixo para se atingirem valores com aquela expressão! E então isso era óptimo! Por que não exibe na praça pública diversas dessas facturas portuárias globais, para que, decompondo-as nos diversos factores de custo que as integram, se fique a saber duma vez por todas o peso no custo total final, de cada um desses mesmos factores?!
Que peso tem na factura portuária global o custo de rebocagem?! De rebocagem sublinhe-se, por vezes desnecessária, porque simplesmente não actua! E já agora qual a diferença do custo de rebocagem para o mesmo navio, entre o porto de Aveiro e o porto de Leixões?!
Quanto custa um movimento nocturno no porto de Aveiro?! Por que forma tem esse custo obstado a que navios demandem ou larguem do porto durante a noite?! Por forma positiva?! Quantos movimentos nocturnos se têm feito?! Qual o peso dessa ineficiência do porto, no custo de exploração do navio?!E no frete?! Sabe que o porto de Aveiro é o único que por forma regular não faz movimentações nocturnas?! Tudo isto não influencia os custos?! Qual a diferença de custos para o mesmo navio, imputados ao armador, entre Aveiro e Leixões?!
Sr. Engº é necessário elucidar de forma exaustiva e com verdade, a comunidade portuária alargada.
Cumprimentos
FGOMES
26 de Outubro de 2012
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