Uma entrevista do novo presidente da REFER e outra do Secretário de
Estado dos Transportes levam o autor, Rui Rodrigues, a denunciar erros
na estratégia ferroviária. A concretizar-se o anunciado nas entrevistas,
os portos portugueses ficarão sem ligação à rede ferroviária da bitola
europeia!
Numa entrevista publicada no “PÚBLICO” do dia 29 de Outubro de
2012, o novo Presidente da REFER, Rui Loureiro, fez importantes
declarações sobre a ligação ferroviária a Badajoz que, caso se torne
realidade, terão consequências muito graves para a economia nacional,
pois levarão a que os portos de Sines e Setúbal e fábricas como a
Auto-Europa fiquem desligados da nova rede ferroviária de bitola
europeia. Questionado sobre o projecto da nova rede de bitola europeia, a resposta foi:
“Foi feita uma nova proposta de financiamento ao POVT Fundos Comunitários para o troço Évora-Caia, motivada por adaptações temporárias do projecto acordadas com Espanha. A linha será em bitola ibérica porque os espanhóis ainda não têm a linha deles em bitola europeia, mas as travessas estarão preparadas para, quando for possível, rapidamente se mudar de uma bitola para outra.” Acrescentou ainda, sobre o novo troço Évora-Caia: “Será uma velocidade média, da ordem dos 220 km/hora. No entanto, a plataforma estará preparada para a alta velocidade, que só avançará quando o país tiver recursos para tal.”
“Foi feita uma nova proposta de financiamento ao POVT Fundos Comunitários para o troço Évora-Caia, motivada por adaptações temporárias do projecto acordadas com Espanha. A linha será em bitola ibérica porque os espanhóis ainda não têm a linha deles em bitola europeia, mas as travessas estarão preparadas para, quando for possível, rapidamente se mudar de uma bitola para outra.” Acrescentou ainda, sobre o novo troço Évora-Caia: “Será uma velocidade média, da ordem dos 220 km/hora. No entanto, a plataforma estará preparada para a alta velocidade, que só avançará quando o país tiver recursos para tal.”
Através da leitura atenta destas declarações, fica a ideia de que só será construído um novo troço Évora-Badajoz e, após a sua finalização, será feita a ligação à via única que já existe Évora-Vendas Novas-Poceirão-Sines, em bitola (distância entre carris) Ibérica. É dito também que se mudará a bitola da linha referida para a europeia, quando for possível, pois as travessas estarão preparadas para tal alteração. Para mais informação sobre o itinerário mencionado, basta ir ao site da REFER e ver em “mapa da REDE”. Após uma observação mais atenta do mapa da Rede Ferroviária Nacional, verifica-se que grande parte do troço Sines-Poceirão é em via única e que é comum às ligações Norte-Sul, desde o Algarve até ao Norte de Portugal, através da Linha do Norte e tudo em bitola ibérica.
Os comboios de mercadorias utilizam este troço desde Sines para as ligações a Norte deste porto de águas profundas e o mesmo se passa com os comboios que transportam passageiros do Algarve para o resto do País. Se, por hipótese, for alterada a bitola no troço Sines-Poceirão, todas as ligações existentes, em bitola ibérica, seriam cortadas. Tal projecto só seria viável no dia em que a bitola da Linha do Norte também fosse mudada e nesta só será fisicamente possível modificá-la quando existir uma nova linha Lisboa-Porto, em bitola europeia.
As propostas do novo Presidente da REFER deixariam os portos de Setúbal e Sines desligados da nova rede de bitola europeia. No passado, outros dirigentes da REFER também estavam convencidos de que, para ligar os portos à nova rede de bitola europeia, bastaria só mudar as travessas e tudo se resolveria um dia no futuro.
Portugal vai precisar de duas redes ferroviárias
Portugal vai necessitar de duas redes ferroviárias: a existente e a nova de bitola europeia de mercadorias e passageiros, mas com pontos comuns, como sejam, os portos, plataformas logísticas e estações de passageiros. O importante porto espanhol de Barcelona, por exemplo, já está preparado para funcionar com as duas bitolas, a ibérica e a europeia (existe também a métrica). Desta forma, os contentores que forem transportados de e para a União Europeia (UE) já podem circular livremente e sem quaisquer transbordos, o que evita o disparo dos custos do transporte e limita fortemente o número de comboios na linha.
A Espanha vai ter três redes ferroviárias: as duas existentes, em bitola métrica (sobretudo nas zonas de montanha) e a de bitola ibérica, com e sem electrificação de 3 mil volts (3 KV) de corrente contínua (cc) e sinalização ASFA e a nova rede de bitola europeia, com electrificação de 25 mil volts e corrente alternada (ca) e sinalização ERTMS, ou seja (bit. Europ, 25KV, ca, ERTMS). Portugal já possui uma rede de bitola ibérica, com e sem electrificação de 25 mil volts e corrente alternada e sinalização Convel. Simplificando e considerando as variáveis bitola, electrificação e electrificação temos:
-Rede convencional de Espanha (bit. Ibérica, 3 KV cc, ASFA);
-Rede convencional de Portugal (bit. Ibérica, 25 KV ca, Convel);
-Nova rede (bit. Europ, 25KV ca, ERTMS). Esta rede será ‘standard’ para ambos os países da Península e da UE.
Significa que, para ter as redes de diferentes países interoperativas, não basta só resolver o maior problema que é a bitola. É também necessário possuir electrificações e sinalizações comuns.
Existe uma certeza, que todos podem confirmar, é que a Espanha está a construir uma nova rede ferroviária de bitola europeia, com vias preparadas para mercadorias e passageiros, que chegará à nossa fronteira em quatro pontos: Valença, Vilar Formoso, Badajoz e Vila Real de Santo António.
A solução adoptada, no porto de Barcelona, também deveria ser concretizada nos portos de Sines e Setúbal. Desta forma, a linha de bitola europeia, que vem de Madrid até Badajoz, deveria ser prolongada para se ligar aos dois nós da nossa rede ferroviária: Pinhal Novo e Poceirão. Pinhal Novo é um nó de passageiros que mais tarde será ligado a Lisboa. Poceirão é um nó de mercadorias que deveria ser conectado a Sines e Setúbal através da nova rede, uma vez que nos próximos anos, a Espanha terá duas ligações a França e, por consequência, de Madrid seria possível a circulação das mercadorias por Irún-resto da UE que estará concluída em 2016. A outra ligação Barcelona-França estará terminada na sua totalidade, em Abril de 2013, estando já na fase de testes.
Esta opção permitiria que os contentores que fossem descarregados por um navio em Sines, por exemplo, pudessem ser directamente transportados para Portugal pela rede existente, ou para Madrid, diversos pontos de Espanha e UE, através da nova rede com material circulante ‘standard’ e de tracção eléctrica, cujo transporte é muito mais eficiente e barato que a tracção a diesel.
O primeiro troço a construir seria a nova via dupla Poceirão-Caia que faz parte do PP3 (projeto prioritário nº 3), que nos vai ligar a Madrid e ao Corredor do Atlântico-UE, Corredor do Atlântico: França-Irún-Valladolid-Palencia, que bifurca para 3 direcções: Vilar Formoso-Aveiro-Eixo Norte-Sul de Portugal (incluindo o porto de Leixões), Galiza e Madrid por Ávila. O tráfego será a soma dos tráfegos nacionais e internacionais, tanto de mercadorias como de passageiros.
Análise à entrevista do Secretário de Estado dos Transportes
Numa outra entrevista, esta dada à publicação “Transportes em Revista” de Novembro-Dezembro, o actual Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, relativamente ao troço Poceirão-Caia, defendeu a construção de uma linha com uma via única de bitola europeia e outra via única de bitola ibérica.
A Comissão Europeia dificilmente aceitaria financiar este projecto, pelas seguintes razões:
• Esta solução seria semelhante à construção de uma auto-estrada com uma só faixa, por sentido, e que, numa delas, só permitiria a circulação de um determinado tipo de veículos.
• Os projectos das novas redes transeuropeias vão possuir características normalizadas que visam resolver os actuais problemas de interoperabilidade. Trata-se de “auto-estradas ferroviárias” por onde todos os comboios de mercadorias e passageiros, em bitola europeia, possam circular livremente, entre os diferentes países da Europa.
• As vias únicas têm muito menor pontualidade e capacidade do que uma via dupla.
Provavelmente, o Secretário de Estado precipitou-se ou foi mal assessorado. Esta é a única forma de entender a proposta apresentada e que deverá ser abandonada.
Tendo em conta o que ficou acordado com o Ministro Álvaro Santos Pereira e a Ministra espanhola Ana Pastor, e pelo que foi dito após a respectiva reunião do dia 27 de Fevereiro de 2012, a linha desde Badajoz até ao Poceirão será em via dupla, em bitola europeia, mista de mercadorias e passageiros. Foi uma importante decisão que permitiria ligar os portos de Setúbal, Sines e a Região de Lisboa à Europa.
Para confirmar o que ficou acordado, na reunião anteriormente referida, basta visualizar o seguinte site do Ministério de Fomento espanhol: www.fomento.gob.es/NR/rdonlyres/B3D87E25-1CDD-4835-9740-FFA1CDE84FF5/109801/12022702.pdf
1 comentário:
Caros Amigos e Companheiros:
E depois vêm os "estagiários" que nos governam, afirmar que querem os nossos portos tão competitivos quanto os portos espanhóis! Santa ignorância!!Não sei até onde chega a competitividade deles! Mas devem ter uma pala à frente dos olhos !!
Saudações Sindicais
FGOMES
02 de Dezembro de 2012
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