Um dia perguntaram a um antigo treinador do Benfica o que era a mística do clube. Ele respondeu com um discurso ainda hoje lembrado por muitos benfiquistas, destacando o profissionalismo dos seus jogadores e os extraordinários adeptos.
Pergunto eu… e a mística da
Estiva em Aveiro? Existe? O que é?
Eu digo que existe. Foi passada
dos mais velhos para os mais novos; nalguns casos de Pai para filho e até do
pai para filho que mais tarde já pai passou novamente para o seu filho (3ª
geração). Mas afinal o que é a mística da estiva de Aveiro? É o
profissionalismo que existe nos estivadores de Aveiro e que sempre existiu, é
não sabermos trabalhar a um ritmo normal pois trabalhamos sempre à pressa
querendo fazer tudo bem o mais rápido possível. Quem não se lembra das “corridas”
de empilhadores nas descargas de varão de ferro da já extinta empresa Vougamar
das oito da manhã até a meia noite?. Ou os pequenos “concursos” onde se tentava
ser o primeiro a deslingar, muitas vezes ainda a lingada vinha no ar já tínhamos
as mãos prontas para que no instante imediato em que esta tocasse no chão era
uma questão de segundos para dizermos “ do meu lado já tá!”, ou “deste lado
vira”? Ou da luta nos navios de peixe congelado a temperaturas negativas em que
as duas equipas “competiam” com o objectivo de fazer a palete mais alta? Quem
não se lembra de recordes batidos atrás de recordes em números ( apenas o que
interessa a certos ilustres) nas cargas e descargas? QUEM NÃO SE LEMBRA DE
TERMOS FEITO MAIOR PARTES DAS VEZES MUITO MAIS DO QUE NOS ERA PEDIDO?! Já agora
que falo nos navios de peixe congelado….sim podia ser um serviço duro e que não
gostávamos muito de lá calhar, mas fazíamo-lo com alegria e com o
profissionalismo habitual. A Alegria ainda era maior porque sabíamos que nesse
dia iríamos sair um pouco mais cedo do que o habitual. Nesse dia íamos sair às
20h e não às 24h do costume. Era um dia especial pois podíamos aproveitar para
estar um pouco com a namorada/esposa/filhos, ao contrário dos outros dias em
que trabalhávamos das 8h até as 24h. Quem não se lembra de estar disponível dezasseis
horas por dia para trabalhar? Muitos de nós nem viram os filhos crescer; era
pouco o tempo passado com a família; outros outrora ainda bebes/garotos/adolescentes
também pouco viam o seu Pai pois este era Estivador.
Alguns dos
estivadores de Aveiro estão ligados à estiva não a partir do dia em que
assinaram contrato ou do primeiro dia de trabalho mas sim, desde que nasceram
pois foi a mesma estiva que lhes deu de comer, os vestiu e lhes pagou os
estudos. Por isso não nos peçam para ficarmos sentados a ver o desenrolar do
filme. Não nos peçam para apagar todo este passado e este presente de um dia
para o outro! Os Estivadores do Porto de Aveiro são uma família. Não de
sessenta e poucos mas sim de todos os que cá trabalham e já trabalharam.
Da mesma
maneira que Bella Guttman respondeu à pergunta sobre a mística do Benfica em
que refere que os seus adeptos, faça sol, chuva ou frio os adeptos estão
presentes, também os Estivadores de Aveiro sempre estiveram presentes com o seu
trabalho em dias e noites de chuva e frio de inverno e calor abrasador dentro
dos porões dos navios durante o Verão. Além disso num universo de sessenta e
poucos estivadores quem é que nunca se magoou no exercício da sua profissão? Quem
não tem ou nunca teve problemas físicos ou mazelas para o resto da vida? Alguns
até já ficaram incapacitados!
Presentemente, e ao que parece
anda por aí um grupo de iluminados que nunca soube nem sabem o que é o trabalho
e que querem acabar com os Estivadores de Aveiro. Os sentimentos são muitos:
revolta, frustração, tristeza. Como explicar a um trabalhador que deu a vida no
seu local de trabalho, que não esteve com a família tanto como gostaria e que
passou por mil e uma adversidades, que agora esse trabalhador já “não presta”?!
Como explicar a esse trabalhador que trabalhou anos e anos sempre com o mesmo
afinco que agora lhe querem dar um pontapé no traseiro?!
Já que comecei
este texto a falar de futebol e principalmente do Benfica, acabo da mesma
maneira. A diferença entre o Benfica e os Srs. Ilustres patrões do Porto de Aveiro
é que o Benfica soube agradecer ao seu melhor funcionário. Ainda hoje lá está e
tem o maior respeito dos seus patrões sejam eles quem forem porque o clube(
instituição) tal como os Estivadores de Aveiro serão sempre maiores do que
qualquer patrão. O Porto de Aveiro não se fez nem se faz por nenhum ilustre que
por lá passe mas sim por quem lá deu ou dá a vida.
3 comentários:
eu sou um caso desses,os meus dois avós,o meu pai ainda ao serviço,eu e o meu irmao muita familia.
tal o est35 eu tambem sou da 3 geração de estivadores e ainda somos de familia afastada, quando conto ao meu pai o que nos querem fazer fica com uma tristeja enorme porque tanto ele como o meu avo deram muito ao porto. abraço piorro23
Vamos trabalhando no pouco que estes senhores mandam vir para Aveiro,para nao nos acusarem de nada. E na altura da luta sim, vamos mostrar que estamos unidos e nao estamos sozinhos.
Abraço
Orlando Miguel08
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