Desilusão por causa das expectativas criadas no início do ano passado
e apreensão em relação ao que irá acontecer no futuro: só assim é que,
depois de um ano globalmente positivo para as exportações nacionais,
podem ser recebidos os dados divulgados pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE). Principalmente tendo em conta que a economia
portuguesa tem nas exportações a sua grande (senão única) esperança de
retoma.
É verdade que as vendas de bens ao estrangeiro cresceram, no total de
2012, 5,8% face ao ano anterior. E que, também com a ajuda da quebra
das importações, o défice na balança comercial de bens encolheu mais de
5700 milhões de euros (cerca de 3,5% do PIB). Mas os dados registados
nos últimos meses mostram igualmente de forma clara que a entrada da
zona euro em recessão, a perda de clientes nos dois principais mercados e
a apreciação do euro face às restantes divisas internacionais estão a
pressionar de forma muito acentuada as empresas exportadoras
portuguesas, aumentando o receio de que os ambiciosos objectivos
nacionais neste sector possam tornar-se demasiado difíceis de cumprir.
De acordo com as estatísticas para o comércio internacional ontem
publicadas pelo INE, o último mês do ano revelou-se penoso para as
exportações portuguesas. Caíram 3,2% face a igual período do ano
anterior, acentuando uma descida que tinha sido de 0,1% em Novembro. No
total do quarto trimestre do ano, o crescimento não passou de 1%.
Estes valores contrastam de forma evidente com aquilo que se passou
no início de 2012. Em Janeiro, a variação homóloga das exportações de
bens arrancou com uns impressionantes 13,3%, seguindo-se variações
também muito positivas de 12,7% e de 9% nos meses imediatamente a
seguir. Por essa altura, muitos analistas, incluindo o Governo, a troika
e o Banco de Portugal, acreditaram que as exportações iriam conseguir
limitar de forma muito significativa os danos que já estavam a ser
provocados pela queda a pique da procura interna. No entanto, o
desempenho extraordinário do início do ano não se conseguiu manter.
Recessão na zona euro
O principal motivo foi a entrada em recessão da economia da zona
euro, onde se encontram muitos dos principais parceiros comerciais
portugueses. Os dados do Eurostat mostram que, tanto no segundo como no
terceiro trimestre do ano passado, a economia da zona euro registou uma
descida do PIB face ao período imediatamente anterior, o que a colocou
numa situação de recessão técnica. E espera-se que, na próxima
quinta-feira, quando o gabinete de estatísticas europeu divulgar os
dados preliminares do quarto trimestre, a tendência se mantenha.
Isto fez com que se passasse de ganhos para perdas em mercados
fundamentais. Dois exemplos: a Espanha e a Alemanha, que são ainda os
dois principais destinos das exportações portuguesas, absorvendo mais de
um terço das vendas totais. Em Espanha, a queda no total do ano foi de
4,5% e, na Alemanha, foi de 4,1%.
No caso da maior economia da zona euro, o enfraquecimento da economia
só se começou a fazer sentir a partir de metade do ano, mas o impacto
foi muito forte nas exportações portuguesas. No quarto trimestre, as
vendas para a Alemanha caíram 8%.
As exportações para a totalidade dos países da União Europeia (que
inclui países com o euro e com outras divisas) cresceram 1% no total de
2012, mas no quarto trimestre já se registou uma perda de 2,5% face ao
período homólogo do ano anterior, um valor que contrasta com o
crescimento de 5% no primeiro trimestre. Estes valores são especialmente
preocupantes para o futuro. Nas suas previsões de Inverno, divulgadas
em Janeiro, o Banco de Portugal já reconheceu esta tendência mais
negativa e reviu em baixa as suas projecções de crescimento para 2013,
devido sobretudo a um desempenho mais fraco das exportações.
No entanto, se a tendência agora registada no comércio com a zona
euro se mantiver durante mais alguns meses, mesmo os novos objectivos
podem ser postos em causa.
Num cenário em que, devido às novas medidas de austeridade, o consumo
e o investimento dificilmente conseguem arrancar, inverter a tendência
negativa verificada no final de 2012 nas vendas para os parceiros do
euro é o principal desafio que enfrenta a economia portuguesa. Um
desafio tanto maior quanto depende também, em larga medida, daquilo que
irá acontecer nas economias dos outros países, com destaque para a
Espanha, a Alemanha e a França.
Extracomunitário abranda
A evolução das exportações da zona euro ganha ainda mais importância
porque, nos outros mercados que se apresentaram como verdadeira
alternativa nos últimos anos, o entusiasmo também está a diminuir. No
total de 2012, a vendas de bens para países extracomunitários subiram
19,8%, mantendo o bom desempenho dos anos anteriores. No entanto, os
sinais do final do ano trazem alguma apreensão. No quarto trimestre, o
crescimento foi de 10% (no primeiro trimestre tinha sido de 33,6%) e, em
Dezembro, a subida foi de apenas 2,7%. A par de algum abrandamento em
economias importantes, como os EUA, há o receio de que a recente
apreciação do euro esteja já a dificultar a vida das empresas
portuguesas nesses mercados.
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