4 de dezembro de 2012

Administradores dos portos e governo podem avançar para "medidas dramáticas"

Multiplicam-se os avisos de que a greve dos estivadores, agora prolongada até à véspera de Natal, está a prejudicar gravemente a economia e acabará por matar postos de trabalho nos portos portugueses. Avançar com despedimentos entre os grevistas pode ser o passo seguinte.
No dia seguinte ao anúncio de que a greve dos estivadores, iniciada em Setembro, vai afinal prolongar-se outra vez, desta feita até à véspera de Natal, multiplicam-se os avisos de que a situação está a tornar-se "insustentável". Para além de prejudicar toda a economia portuguesa, em particular o sector exportador (designadamente as expedições da Autoeuropa), em causa estará já também a viabilidade dos portos portugueses (e respectivos postos de trabalho), que têm sido trocados pelos espanhóis devido às paralisações sucessivas.
O aviso partiu do presidente do Instituto Portuário que, em declarações à TSF, argumenta que a situação actual, com greves sucessivas desde Setembro, é "insustentável" e poderá forçar o Governo ou as administrações dos portos a tomarem medidas drásticas como o despedimento de alguns trabalhadores. "Caso a direcção sindical continue a proceder da mesma maneira, um dia destes não restará ao Governo ou aos operadores portuários senão tomarem medidas drásticas." Que medidas? "O despedimento é uma medida drástica", exemplificou João Carvalho.
A TSF ouviu também o presidente do Fórum para a Competitividade, Ferraz da Costa, que se disse igualmente surpreendido com o prolongamento da greve dos estivadores, que tem atingido os portos de Lisboa, Setúbal, Figueira da Foz e Aveiro. Ferraz da Costa diz que o Governo tem legitimidade para avançar com "medidas de emergência", designadamente a requisição civil, mas fundamental, considera, é regulamentar a lei da greve, de modo a que "não haja tantos excessos", o que exigirá um entendimento parlamentar entre os partidos que apoiam o governo (PSD e CDS) e o PS.

Na Assembleia da República, a Comissão parlamentar do Trabalho ouve hoje representantes do Sindicato de Estivadores a propósito do novo regime do trabalho portuário, que foi aprovado na generalidade semana passada e que está na origem das greves. Nesse contexto, os deputados ouviram ao longo da manhã os líderes da UGT e da CGTP.
João Proença reiterou que a central sindical, afecta ao PS, não tem objecções fundamentais à nova lei, que reduz e "legaliza" o trabalho extraordinário e "clarifica" o recurso a trabalhadores temporários. Questionado pelos jornalistas sobre a greve em curso, Proença lembrou que os sindicatos afectos à UGT não aderiram, e é isso que tem permitido o funcionamento dos portos de Sines e de Leixões onde, devido à sobrecarga de trabalho, "os trabalhadores estão no limite". Embora tenha considerado a greve "legítima e legal", João Proença advertiu para o facto de esta poder "pôr em causa os postos de trabalho porque "só se cria emprego com a actividade dos portos e se a actividade está a diminuir, os postos de trabalho estão em causa".
Para que o conflito actual seja ultrapassado, João Proença defende um acordo tripartido entre operadores, sindicatos e Governo que "assegure que não há riscos para o emprego e clarifique a utilização do trabalho temporário".
Já o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, discorda da nova lei e atribui ao Governo a responsabilidade da greve. "O Governo tem possibilidade de resolver o assunto, chamar a administração portuária, os sindicatos e encontrar uma solução. Se não o faz, está a sacudir a água do capote". Em sua opinião, a nova lei é uma "tentativa de substituição de trabalhadores efectivos por trabalhadores com vínculos precários" que vai acentuar as políticas de "recessão e exploração" do Governo. Questionado sobre o impacto negativo sobre as exportações portuguesas, o líder da CGTP disse que tal se deve à recessão em Espanha e na Europa que políticas de descida de salários tendem a agravar.
Na origem das sucessivas greves dos estivadores está o novo regime do trabalho portuário, que foi votado na generalidade pela Assembleia da República na passada quinta-feira. Alguns dos trabalhadores do sector não aceitam as limitações de horas extraordinárias e das funções consideradas como trabalho portuário, que actualmente inclui toda a área de jurisdição do porto. A proposta de lei em discussão prevê uma restrição das tarefas a realizar pelos estivadores, dado que o serviço nas portarias, nos armazéns e a condução de veículos pesados deixarão de ser considerados como trabalho portuário, informa a Lusa.
Os estivadores dos portos de Lisboa, Setúbal, Aveiro e Figueira da Foz estão em greves sucessivas desde Setembro, altura em que o Governo anunciou o acordo com 9 dos 11 sindicatos representativos dos trabalhadores portuários para a nova legislação.

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