Passeando
por Aveiro, sustamos o nosso passo na emblemática Ponte-Praça, fixemo-nos um
pouco nas águas da ria, virados para nascente, e deixemos que as memórias de
Aveiro venham ter connosco.
Um século
depois da recuperação da vila de Aveiro para a coroa (que aconteceu em 1306,
por intermédio de El-Rei D. Dinis), a vila estava em franco desenvolvimento.
Por essa razão, no dia 8 de Janeiro de 1406, D. João I mandou passar carta de
licença ao seu escrivão Álvaro Gonçalves, para fazer em Aveiro moendas de pão
«no esteiro do mar que entra polla ponte do dicto logar, acima da dicta ponte,
que moese com agoa do mar»- segundo consta num documento da chancelaria de D.
João I, em arquivo na Torre do Tombo.
Moenda de
pão significaria a farinha produzida da moagem de uma determinada quantidade de
cereal.
Nasceu
assim, a 8 de Janeiro de 1406, uma forma de moinho pouco comum- o moinho de
marés, que tal como o nome o faz entender, utilizava a energia das marés como
força motriz das mós.
Este moinho
de marés, ou o que resta dele, é um dos monumentos mais antigos de Aveiro.
Com o
assoreamento da barra de Aveiro, ocorrido na segunda metade do séc. XVI, as
marés deixaram de conseguir penetrar na ria, o que originou que o moinho de
marés deixasse de poder trabalhar, pelo que entrou em ruína, tendo, no entanto,
as entradas das suas azenhas conseguido resistir á passagem do tempo.
O moinho de
marés, construído há 607 anos, é um monumento que os aveirenses vêem todos os
dias, pois trata-se do conjunto de arcos mergulhado na ria, que sustenta o
edifício da velha Capitania do Porto de Aveiro.
Na verdade,
quanta história humana se esconde no silêncio das pedras!
Agora, que
da Ponte Praça estivemos a observar 607 anos de história, podemos continuar o
nosso caminho, num Domingo do início do séc. XXI, com a certeza de que para
trás de nós existe uma longa e velha tradição.