13 de fevereiro de 2013

Abrandamento nas exportações cria apreensão para o futuro

Desilusão por causa das expectativas criadas no início do ano passado e apreensão em relação ao que irá acontecer no futuro: só assim é que, depois de um ano globalmente positivo para as exportações nacionais, podem ser recebidos os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Principalmente tendo em conta que a economia portuguesa tem nas exportações a sua grande (senão única) esperança de retoma.
É verdade que as vendas de bens ao estrangeiro cresceram, no total de 2012, 5,8% face ao ano anterior. E que, também com a ajuda da quebra das importações, o défice na balança comercial de bens encolheu mais de 5700 milhões de euros (cerca de 3,5% do PIB). Mas os dados registados nos últimos meses mostram igualmente de forma clara que a entrada da zona euro em recessão, a perda de clientes nos dois principais mercados e a apreciação do euro face às restantes divisas internacionais estão a pressionar de forma muito acentuada as empresas exportadoras portuguesas, aumentando o receio de que os ambiciosos objectivos nacionais neste sector possam tornar-se demasiado difíceis de cumprir.

De acordo com as estatísticas para o comércio internacional ontem publicadas pelo INE, o último mês do ano revelou-se penoso para as exportações portuguesas. Caíram 3,2% face a igual período do ano anterior, acentuando uma descida que tinha sido de 0,1% em Novembro. No total do quarto trimestre do ano, o crescimento não passou de 1%.
Estes valores contrastam de forma evidente com aquilo que se passou no início de 2012. Em Janeiro, a variação homóloga das exportações de bens arrancou com uns impressionantes 13,3%, seguindo-se variações também muito positivas de 12,7% e de 9% nos meses imediatamente a seguir. Por essa altura, muitos analistas, incluindo o Governo, a troika e o Banco de Portugal, acreditaram que as exportações iriam conseguir limitar de forma muito significativa os danos que já estavam a ser provocados pela queda a pique da procura interna. No entanto, o desempenho extraordinário do início do ano não se conseguiu manter.
Recessão na zona euro
O principal motivo foi a entrada em recessão da economia da zona euro, onde se encontram muitos dos principais parceiros comerciais portugueses. Os dados do Eurostat mostram que, tanto no segundo como no terceiro trimestre do ano passado, a economia da zona euro registou uma descida do PIB face ao período imediatamente anterior, o que a colocou numa situação de recessão técnica. E espera-se que, na próxima quinta-feira, quando o gabinete de estatísticas europeu divulgar os dados preliminares do quarto trimestre, a tendência se mantenha.
Isto fez com que se passasse de ganhos para perdas em mercados fundamentais. Dois exemplos: a Espanha e a Alemanha, que são ainda os dois principais destinos das exportações portuguesas, absorvendo mais de um terço das vendas totais. Em Espanha, a queda no total do ano foi de 4,5% e, na Alemanha, foi de 4,1%.
No caso da maior economia da zona euro, o enfraquecimento da economia só se começou a fazer sentir a partir de metade do ano, mas o impacto foi muito forte nas exportações portuguesas. No quarto trimestre, as vendas para a Alemanha caíram 8%.
As exportações para a totalidade dos países da União Europeia (que inclui países com o euro e com outras divisas) cresceram 1% no total de 2012, mas no quarto trimestre já se registou uma perda de 2,5% face ao período homólogo do ano anterior, um valor que contrasta com o crescimento de 5% no primeiro trimestre. Estes valores são especialmente preocupantes para o futuro. Nas suas previsões de Inverno, divulgadas em Janeiro, o Banco de Portugal já reconheceu esta tendência mais negativa e reviu em baixa as suas projecções de crescimento para 2013, devido sobretudo a um desempenho mais fraco das exportações.
No entanto, se a tendência agora registada no comércio com a zona euro se mantiver durante mais alguns meses, mesmo os novos objectivos podem ser postos em causa.
Num cenário em que, devido às novas medidas de austeridade, o consumo e o investimento dificilmente conseguem arrancar, inverter a tendência negativa verificada no final de 2012 nas vendas para os parceiros do euro é o principal desafio que enfrenta a economia portuguesa. Um desafio tanto maior quanto depende também, em larga medida, daquilo que irá acontecer nas economias dos outros países, com destaque para a Espanha, a Alemanha e a França.
Extracomunitário abranda
A evolução das exportações da zona euro ganha ainda mais importância porque, nos outros mercados que se apresentaram como verdadeira alternativa nos últimos anos, o entusiasmo também está a diminuir. No total de 2012, a vendas de bens para países extracomunitários subiram 19,8%, mantendo o bom desempenho dos anos anteriores. No entanto, os sinais do final do ano trazem alguma apreensão. No quarto trimestre, o crescimento foi de 10% (no primeiro trimestre tinha sido de 33,6%) e, em Dezembro, a subida foi de apenas 2,7%. A par de algum abrandamento em economias importantes, como os EUA, há o receio de que a recente apreciação do euro esteja já a dificultar a vida das empresas portuguesas nesses mercados.

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