A inauguração do ramal entre Cacia e o porto de Aveiro, prevista para breve, vai permitir transferir para o caminho-de-ferro entre 15 a 20 por cento do tráfego portuário, o que corresponde à
realização de mil comboios por ano e à redução de 30 mil camiões na A25.
José Cacho, administrador do porto de Aveiro, disse ao PÚBLICO que a valência ferroviária tornará esta infra-estrutura mais competitiva e sobretudo mais atractiva para os mercados espanhóis.
Granéis líquidos e sólidos, produtos metalúrgicos e carga contentorizada serão os principais transportes a ser efectuados sobre carris de e para aquele porto que, graças a isso, espera aumentar a sua facturação anual em 5 por cento nos próximos três a quatro anos.
O PÚBLICO perguntou à CP-Carga (uma sociedade anónima de capitais públicos pertencente ao grupo CP) e à
Takargo (operador privado do grupo Mota Engil), quais os benefícios que esperam obter desta infra-estrutura que custou 72,7 milhões de euros à Refer, mas só a segunda respondeu.
Esta empresa, que já hoje efectua transporte de clinquer entre a fábrica da Cimpor de Souselas e o terminal de Cacia,
espera fazer chegar os seus comboios directamente ao porto, evitando o transbordo rodoviário de 180 mil toneladas por ano daquele produto, equivalente a menos 7500 camiões na estrada.
Contas idênticas foram feitas para o transporte de 60 mil toneladas/ano de óleo de soja entre Alhandra e Alverca para a fábrica da Prio de Aveiro, o que corresponde a menos 2500 camiões por ano.
Pires da Fonseca, administrador da Takargo, admite vir ainda a transportar directamente pela ferrovia
400 mil toneladas de cereais por ano desde o terminal da Sograin (porto de Aveiro) para a zona de Leiria e para Salamanca. Dado tratar-se de um tráfego novo, tal implicará a redução de 90 milhões de TK (toneladas/quilómetro) na estrada.
Esta operação é possível porque o grupo Mota Engil investiu cerca de 25 milhões de euros num terminal junto ao porto para permitir o interface directo para a ferrovia, por forma a poder ser competitivo na região de Castela e competindo directamente com os portos de Gijon e Santander.
A mesma fonte prevê ainda
transportar pacotão de cimento de Souselas para o porto de Aveiro e pasta de papel de Ródão para o mesmo destino. Ambos os tráfegos se destinam à exportação.
Pires da Fonseca diz ainda que o terminal de Cacia deve ser entendido não apenas como um hub à actividade portuária, mas sim como um plataforma logística intermodal para a região de Aveiro e sul de Gaia.Por parte da CP-Carga, é apenas conhecido um protocolo de intenções assinado em 2009 com o porto de Aveiro sob a égide da então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
ADRIANO MIRANDA
O PÚBLICO