O Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, anunciou na semana
passada a construção de duas ligações ferroviárias em bitola europeia -
Sines a Madrid e Aveiro a Salamanca – de ligação entre Portugal e a
Europa, anúncio posteriormente confirmado pelo Primeiro-Ministro.
Rapidamente surgiram manifestações de grande satisfação, quer por parte de várias Câmaras Municipais da Região Centro, bem como pela Administração do Porto de Aveiro (APA). Na Assembleia Municipal de Aveiro registou-se um caso raro de consenso em torno do assunto, com os vários partidos políticos a congratularem-se com a decisão do Governo.
MAS AFINAL, DE QUE FALAMOS? PARA QUE SERVE ESTA LINHA?
Por razões históricas e de estratégia que remontam à época das invasões napoleónicas, Espanha decidiu adoptar um modelo ferroviário diferente do do resto da Europa, ou seja, com uma bitola mais larga (30cm) que a utilizada nos outros países europeus. Este facto obrigou Portugal a adoptar o mesmo modelo, sob pena de ficar isolado da Espanha e, consequentemente, dos países além-Pirinéus.
Passado todo este tempo, o que antes foi vital para a defesa do território, constitui actualmente um forte constrangimento ao movimento de mercadorias além-Pirinéus que urge resolver. Hoje em dia a passagem pirinaica de mercadorias ferroviárias carece de uma operação logística de transferência da carga (em Irún) para composições de bitola europeia, operação que encarece, em média, o custo do transporte em 15%.
Dado o nosso posicionamento periférico e tendo em conta que mais de 75% das nossas transacções comerciais são realizadas com países europeus, facilmente entendemos que o aumento da competitividade da economia portuguesa tem como factor-chave a diminuição dos custos logísticos e de transacção. Se a este facto juntarmos a necessidade de incrementar as exportações nacionais, entende-se que tais desideratos jogam-se essencialmente no transporte das mercadorias de e para a Europa.
Ora, com o crescente aumento dos custos do transporte rodoviário – preços dos combustíveis, euro vinheta, portagens, etc. – cumpre a Portugal encontrar soluções alternativas, sob pena de colocarmos em causa o nosso futuro. Daí a importância desta ligação.
AVEIRO ALÉM SALAMANCA
Se é certo que todos têm noticiado a linha “Aveiro-Salamanca”, esta deve ser vista como um troço daquela que é a ligação chave “Aveiro-Irún”. A bitola europeia de alta velocidade só faz sentido se pensada além Salamanca, mais propriamente além Pirinéus.
A solução proposta pelo Ministro da Economia integra-se nas políticas descritas no novo Livro Branco dos Transportes e nos actuais planos da União Europeia para as redes transeuropeias de transportes (RTE-T), e tem como grande objectivo ligar Portugal à Europa trans-pirinaica por ferrovia.
Aliás, foi essa também a ideia defendida pelo Primeiro-Ministro e, diga-se, que a escolha da Região Centro se reveste de toda a lógica, porque possui um forte tecido empresarial baseado em bens transaccionáveis e de cariz exportador vital para o sucesso do país.
Além disso, este é o caminho mais curto e menos dependente do traçado espanhol, sendo também a principal alternativa ao principal eixo rodoviário (E80) de entrada/saída do País. Segundo o último relatório do Observatório Transfronteiriço Espanha-Portugal, a fronteira de Vilar Formoso é, de longe, a maior porta das importações/exportações nacionais, pelo que a alternativa deve imperiosamente passar por esse trajecto. Para tal contribui também a Região Norte do país, pelo que falta agora decidir como ligar esta via a essa região.
O PORTO DE AVEIRO
Last but not least, a complementaridade ferro-marítima. Aveiro e a sua região possuem uma infra-estrutura portuária em franco desenvolvimento e perfeitamente preparada para receber a bitola europeia. A ligação ferroviária ao Porto de Aveiro está preparada para receber a bi-bitola (ibérica e europeia), e a Plataforma Logística de Cacia encontra-se em pleno funcionamento. Relembro o peso estratégico desta Plataforma que, a título de exemplo, num raio de 5km, dotará de uma ligação à Europa em bitola europeia duas das maiores empresas exportadoras do nosso país: a Bosch e a Renault/Nissan.
À luz das transformações que ocorrerão na rede ferroviária da Região Centro e de Castela e Leão, surge aqui uma enorme janela de oportunidade para um estreitar de relações (já de si fortes) entre estas regiões e as suas infraestruturas logísticas, a Zaldesa (Cylog) e o Porto de Aveiro. Numa perspectiva de dimensão europeia, está dado o passo para que a Região Centro de Portugal e Castela e Leão se tornem, em termos logísticos, numa única região que define o hinterland natural do Porto de Aveiro.
Com esta ligação ferroviária a Região Centro reforçará definitivamente um papel preponderante na economia nacional e o Porto de Aveiro o seu pipeline para o centro da Europa.
Rapidamente surgiram manifestações de grande satisfação, quer por parte de várias Câmaras Municipais da Região Centro, bem como pela Administração do Porto de Aveiro (APA). Na Assembleia Municipal de Aveiro registou-se um caso raro de consenso em torno do assunto, com os vários partidos políticos a congratularem-se com a decisão do Governo.
MAS AFINAL, DE QUE FALAMOS? PARA QUE SERVE ESTA LINHA?
Por razões históricas e de estratégia que remontam à época das invasões napoleónicas, Espanha decidiu adoptar um modelo ferroviário diferente do do resto da Europa, ou seja, com uma bitola mais larga (30cm) que a utilizada nos outros países europeus. Este facto obrigou Portugal a adoptar o mesmo modelo, sob pena de ficar isolado da Espanha e, consequentemente, dos países além-Pirinéus.
Passado todo este tempo, o que antes foi vital para a defesa do território, constitui actualmente um forte constrangimento ao movimento de mercadorias além-Pirinéus que urge resolver. Hoje em dia a passagem pirinaica de mercadorias ferroviárias carece de uma operação logística de transferência da carga (em Irún) para composições de bitola europeia, operação que encarece, em média, o custo do transporte em 15%.
Dado o nosso posicionamento periférico e tendo em conta que mais de 75% das nossas transacções comerciais são realizadas com países europeus, facilmente entendemos que o aumento da competitividade da economia portuguesa tem como factor-chave a diminuição dos custos logísticos e de transacção. Se a este facto juntarmos a necessidade de incrementar as exportações nacionais, entende-se que tais desideratos jogam-se essencialmente no transporte das mercadorias de e para a Europa.
Ora, com o crescente aumento dos custos do transporte rodoviário – preços dos combustíveis, euro vinheta, portagens, etc. – cumpre a Portugal encontrar soluções alternativas, sob pena de colocarmos em causa o nosso futuro. Daí a importância desta ligação.
AVEIRO ALÉM SALAMANCA
Se é certo que todos têm noticiado a linha “Aveiro-Salamanca”, esta deve ser vista como um troço daquela que é a ligação chave “Aveiro-Irún”. A bitola europeia de alta velocidade só faz sentido se pensada além Salamanca, mais propriamente além Pirinéus.
A solução proposta pelo Ministro da Economia integra-se nas políticas descritas no novo Livro Branco dos Transportes e nos actuais planos da União Europeia para as redes transeuropeias de transportes (RTE-T), e tem como grande objectivo ligar Portugal à Europa trans-pirinaica por ferrovia.
Aliás, foi essa também a ideia defendida pelo Primeiro-Ministro e, diga-se, que a escolha da Região Centro se reveste de toda a lógica, porque possui um forte tecido empresarial baseado em bens transaccionáveis e de cariz exportador vital para o sucesso do país.
Além disso, este é o caminho mais curto e menos dependente do traçado espanhol, sendo também a principal alternativa ao principal eixo rodoviário (E80) de entrada/saída do País. Segundo o último relatório do Observatório Transfronteiriço Espanha-Portugal, a fronteira de Vilar Formoso é, de longe, a maior porta das importações/exportações nacionais, pelo que a alternativa deve imperiosamente passar por esse trajecto. Para tal contribui também a Região Norte do país, pelo que falta agora decidir como ligar esta via a essa região.
O PORTO DE AVEIRO
Last but not least, a complementaridade ferro-marítima. Aveiro e a sua região possuem uma infra-estrutura portuária em franco desenvolvimento e perfeitamente preparada para receber a bitola europeia. A ligação ferroviária ao Porto de Aveiro está preparada para receber a bi-bitola (ibérica e europeia), e a Plataforma Logística de Cacia encontra-se em pleno funcionamento. Relembro o peso estratégico desta Plataforma que, a título de exemplo, num raio de 5km, dotará de uma ligação à Europa em bitola europeia duas das maiores empresas exportadoras do nosso país: a Bosch e a Renault/Nissan.
À luz das transformações que ocorrerão na rede ferroviária da Região Centro e de Castela e Leão, surge aqui uma enorme janela de oportunidade para um estreitar de relações (já de si fortes) entre estas regiões e as suas infraestruturas logísticas, a Zaldesa (Cylog) e o Porto de Aveiro. Numa perspectiva de dimensão europeia, está dado o passo para que a Região Centro de Portugal e Castela e Leão se tornem, em termos logísticos, numa única região que define o hinterland natural do Porto de Aveiro.
Com esta ligação ferroviária a Região Centro reforçará definitivamente um papel preponderante na economia nacional e o Porto de Aveiro o seu pipeline para o centro da Europa.
POR RICARDO PAULO
Fonte portos de portugal
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