10 de março de 2011

SANTA JOANA

Data de 1501 a saída de embarcações de Aveiro para a pesca do bacalhau, nos bancos da Terra Nova.
Por volta dos anos trinta do século XX aquela pesca atravessou uma das maiores crises da sua vida, levando os armadores a suportarem dificuldades de toda a ordem, particularmente no domínio financeiro.
Em 1931, quatro bravos capitães, cujos nomes não é demais recordar, Manuel dos Santos Labrincha, João Ventura da Cruz, João Pereira Cajeira e Aquiles Gonçalves Bilelo, resolveram a aventurarem-se a irem em “comboio”, se é que o termo está correcto, nesses puros lugres á vela desprovidos de quaisquer meios de propulsão que não fosse a eólica e sem ajudas de comunicação, até aos mares gelados da Groenlândia, pescar bacalhau.
Foi um feito heróico e, graças ao carregamento que trouxeram, abriram novas perspectivas a esse tipo de economia, se bem que aqueles destemidos capitães se negaram a lá voltar sem motor auxiliar de propulsão, o que era absolutamente lógico.É nessa altura que Carlos Roeder, na qualidade de representante em Portugal dos motores diesel Guldner, surge em Aveiro a vender motores para os lugres da Empresa de Pesca de Aveiro. Fá-lo a crédito e, mais tarde é convidado a entrar como sócio dessa importante empresa com o valor da venda dos motores, o que aceita. É assim que Carlos Roeder, cidadão do Sul do País e mais tarde, principal fundador e accionista dos Estaleiros Navais de São Jacinto, começa a ser conhecido em Aveiro.
Convence os sócios da Empresa de Pesca de Aveiro e abandonarem a pesca à linha em dóris, por a considerar desumana e ultrapassada e a iniciar a pesca por arrasto, tal e qual os Franceses, que já de há muito a trabalhavam.
Assim nasce em 1936 o primeiro arrastão Português, o SANTA JOANA, para a pesca longínqua, mandado construir na Dinamarca por Carlos Roeder, e que era considerado, á época uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau e conseguia realizar duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro, por conseguinte era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o custo de uma embarcação com as mesmas características rondava os 8.500 contos.
Com o seu elevado espírito de progresso, Carlos Roeder adquire como sucata em St. Pierre et Miquelon um segundo arrastão, o SPITZBERG, que sofrera um violento incêndio, e que depois de trazido para Aveiro e reparado se passou a chamar SANTA PRINCESA, e toma a decisão de construir nos terrenos da E.P.A. um estaleiro para construção naval em aço, no porto de Aveiro, mas não entenderam assim os restantes sócios daquela empresa.
Carlos Roeder que era de ideias fixas, resolve então, com um grupo de amigos e colaboradores, iniciar no ano de 1940, na povoação de São Jacinto, a construção de um estaleiro com esse nome, cuja razão social passou a ser Estaleiros Navais de São Jacinto, e que depois de ter passado por períodos de substancial sucesso, mesmo a nível internacional, terminaram a sua actividade devido à falta de encomendas, sobretudo navios de pesca, há alguns anos.

 
                                                            

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