4 de março de 2011

O BELO E O VIOLENTO MARULHAR

Eu sinto, todos nós sentimos, uma diferença no nosso novo ritmo quotidiano. A correria é a mesma, mas a algazarra é outra. Certamente porque todos nós temos menos motivos para sorrir e existe um pessimismo colectivo que se acentuou nos últimos dois, três anos.
A nossa percepção de que estamos a viver numa sociedade empobrecida e doentia, controlados por um Estado mais corretor do que protector, mais revisor do que explicativo e mais divisor do que distribuidor, faz de nós cidadãos tristes e preocupados. Não estamos a viver em paz e serenamente, como merecemos, mas a pensar e a sentir um futuro incerto e doloroso.
 Acabamos por não ter tempo para vivermos o nosso tempo presente. Vem aí o futuro que é por causa do deficit orçamental, ou que é por causa dos juros da dívida pública, ou por causa das escolas que irão fechar ou também pela inconstância dos preços da gasolina e do gasóleo e, sobretudo, por causa do emprego que ameaça tornar-se desemprego.
Também sinto que estamos a ser levados pela corrente da opinião pública. O crime é condenado na praça pública, ou seja, tudo o que à luz da verdade é condenável, não chega a sê-lo nos tribunais existentes, já que a corrente leva a lama toda para onde todos vêem o rio a correr. O cidadão comum passou a ser informado de todas as desgraças e já agora passou a saber como julgar todas essas más feitorias.
É importante saber encontrar uma lógica diferente daquela que nos é mostrada em enxurradas de pedagogia colectiva. A nossa consciência pessoal mais do que a colectiva deverá apontar para caminhos onde possamos seleccionar as condições mais adequadas à nossa liberdade e ao nosso bem-estar. Termos a consciência que podemos fazer algo, diferente do empurrão colectivo que nos enfeitiça e manda para o abismo.
Seguir os ditames do Ser superior da nossa existência, fazendo o melhor para nós mesmos, como seres únicos e não como pessoas da sociedade actual lavada com soda cáustica e ressarcida dos direitos elementares, como o da saúde, o da cultura e a o da segurança e ainda o acesso à valorização pessoal, profissional, social e colectiva.
No final de cada reflexão aos nossos múltiplos problemas e dúvidas, é crucial o apelo para a descoberta de novos paradigmas onde possamos desfraldar outras bandeiras tais como maior densidade de pensamentos positivos e criativos, capacidade de escolha e crítica para quem governa e possui poderes de disciplina, controlo e decisão final.
Para uma melhor compreensão de todas as nossas fragilidades olhemos o mar de frente, admirando-o com reverência e potenciando em nós a sua energia e procurando na crista das suas ondas o nosso sorriso, porque o marulhar é do mar e não de quem merece ser feliz, neste rectângulo plantado no extremo pobre da Europa, que agora é comandada pelos governos ricos e poderosos. Ora vamos lá todos!

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