20 de junho de 2012

Portos com melhores acessos, têm navios maiores, movimentam mais carga e são mais competitivos

Texto de Opinião de Prof. Vítor Caldeirinha: 
No âmbito do estudo que realizei em 2010 sobre os portos europeus, com recurso a uma amostra 43 portos, num universo de cerca de 230 portos, resultou um conjunto de correlações interessantes entre as variáveis relativas às principais características destes portos, que permitem conhecer melhor o respetivo perfil de competitividade.

1. O movimento de graneis tem correlação positiva com o movimento de carga geral
Verifica-se que o movimento de graneis nos portos europeus possui forte correlação com o respetivo movimento de carga geral. Ou seja, quanto mais carga geral movimentam, maior o movimento de carga a granel. Esta linha mostra também a direção das políticas de desenvolvimento dos portos no sentido do aumento diversificado das cargas em todos os vetores, bem como a relação entre a escala do porto e o sucesso nas suas diversas valências.




2. O movimento total de carga no porto tem correlação negativa com os valores das taxas faturadas por tonelada, pela autoridade portuária
Verifica-se que os portos europeus que movimentam maior quantidade de carga, conseguem ser mais competitivos nas suas faturas portuárias por toneladas movimentada, confirmando-se o efeito de escala que é reconhecido nos portos e confirmando-se que os portos que não possuem massa crítica, não podem ser competitivos por falta de economias de escala.





3. A dimensão média dos navios que escalam o porto tem correlação positiva com o seu movimento
Verifica-se que os portos que recebem, em média, navios de maiores dimensões, têm um maior movimento de carga geral no porto, o que também se correlaciona com o movimento de carga a granel (conforme visto em 1.) e, por sua vez, com o movimento total do porto, possuindo assim correlação negativa também com a fatura do porto por tonelada (ver ponto 2.). Ou seja, a dimensão dos navios está relacionada com a dimensão da carga movimentada no porto e com a competitividade do porto. Os maiores portos são mais competitivos, mais baratos e recebem navios maiores.




4. A dimensão dos navios que escalam o porto está correlacionada com os fundos de acesso marítimo do porto
Apesar de ser uma verdade previsível, poderia não ser uma relação matemática, uma vez que alguns portos com grandes fundos poderiam não receber navios maiores em média, embora tivessem esse potencial. Mas o que se verifica é que os portos apenas dragam e mantém os grandes fundos quando têm navios com dimensão e estes apenas escalam o porto se tiverem garantido esse acesso. Em resultado e em média, os portos com melhores acessos são escalados por navios maiores, movimentam mais carga e são mais competitivos (baratos para os clientes).

5. Os maiores navios não escalam os portos do norte da Europa
Verifica-se que os maiores navios escalam os grandes portos graneleiros do sul da Europa. Mas os restantes navios tanto escalam os portos do norte, como do sul da Europa, sem que se vislumbre relação entre a distância ao centro da Europa e a dimensão dos restantes navios.

Assim, verifica-se empiricamente que para termos portos mais competitivos que alavanquem e apoiem mais a economia, precisamos de escala e dimensão, seja no movimento de carga, seja no tamanho dos navios, seja nos fundos dos portos e dos terminais.
Uma estratégia nacional que encare os portos como alavancas das exportações e da economia deve ter em conta esta realidade e traçar uma estratégia para a atingir com o menor número de recursos possível, mas com o maior impacto possível e pensando global e integrado nas redes logísticas e marítimas globais e ibéricas.

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