Quando
o mar está muito agitado ou quando empresas declaram peso menor que o
real para os contêineres que estão despachando, acidentes podem
acontecer e essas grandes caixas de aço, usadas para transporte em
navios em todo o mundo, podem se soltar e cair no mar. (Do dia 1º a 9/6, o G1 publica uma série de reportagens abordando os principais temas que serão discutidos na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.)De acordo com levantamento do World Shipping Council,
grupo que congrega empresas de navegação que fazem mais de 90% do
transporte de carga marítima internacional, em média 675 contêineres por
ano acabam no fundo do oceano. Considerando que, em 2010, esse setor
deslocou 100 milhões dessas unidades, o índice de perda parece pequeno.
Mas
o fato é que, a cada ano, em centenas de pontos pelo mundo, o chão dos
oceanos é “presenteado” com imensas caixas metálicas, às vezes com
conteúdo poluente, e o efeito disso ainda é pouco conhecido.
“Os
navios de contêineres normalmente não têm guindastes ou outros
dispositivos que permitiriam recuperá-los do mar. Geralmente, eles
descem até o fundo. Mas em casos em que as condições permitem, tentamos
recuperar”, diz Anne Kappel, vice-presidente do WSC.
Os
pesquisadores americanos Andrew DeVogelaere e Jim Barry coordenam um
trabalho para entender melhor qual é o efeito dos contêineres sobre o
ambiente marinho. Os cientistas enviaram um submarino robotizado até um
deles, perdido a 1.281 metros de profundidade no Oceano Pacífico, a
oeste da costa da Califórnia.
A
pesquisa ainda não foi encerrada, mas eles já verificaram que o
aparecimento do bloco metálico alterou a ecologia no local. Em volta do
contêiner perdido, foram encontradas espécies diferentes das que
normalmente habitam as imediações, já que ali há apenas um fundo
arenoso.
Os pesquisadores acreditam que, além dessa alteração, o contêiner ainda pode servir de “parada” para seres vivos que estão migrando para outros pontos, oferecendo um substrato sólido para se fixarem, o que, de outra forma, não aconteceria no chão de areia.
Os pesquisadores acreditam que, além dessa alteração, o contêiner ainda pode servir de “parada” para seres vivos que estão migrando para outros pontos, oferecendo um substrato sólido para se fixarem, o que, de outra forma, não aconteceria no chão de areia.
O levantamento ainda é preliminar, mas já está claro que esse tipo de acidente tem seus efeitos sobre a vida no mar.
Poucos dados A
falta de informação sobre os oceanos é um dos principais problemas para
que se possa tomar medidas para proteger esses importantes
ecossistemas, aponta o oceanógrafo José Muelbert, da Universidade
Federal do Rio Grande (Furg), que coordenou até o ano passado uma
comissão para a implantação de um sistema de observação global de
regiões costeiras.
Os
oceanos são um dos temas a serem debatidos na Conferência da ONU sobre
Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que acontece este mês, no Rio de
Janeiro.
Para
Muelbert, o rascunho do documento internacional que deve resultar da
conferência contém avanços singificativos nessa área. “Os estados devem
reconhecer que os oceanos são críticos para os sustentos vitais da
terra. É algo que não tem tido muito reconhecimento”, observa.
“Outro
aspecto importante é o reconhecimento de que se precisa implementar um
processo regular, ou seja, um painel internacional para verificar
regularmente a saúde dos oceanos”, acrescenta.
Acidificação O
professor chama atenção ainda para a intenção de se criar um sistema de
obervação da acidificação da água marinha. “Acho que é um ponto que é
um pouco tímido. A acidificação é apenas um dos assuntos que mostram a
agressão aos oceanos. Tinha que haver um sistema mais amplo, que
incluísse, por exemplo, as chamadas 'zonas mortas', onde há falta de
oxigênio na água”, defende.
Também
a pesca é questão importante para ser discutida na Rio+20, já que em
vários pontos pelo mundo as populações de determinadas espécies de
peixes estão se esgotando. “Os estados devem ser instados a restaurá-las
a níveis sustentáveis”, comenta Muelbert. A ONU estima que mais de 3
bilhões de pessoas dependam da biodiversidade marinha para viver.
“O
importante é que exista uma conscientização da sociedade da importância
dos oceanos. Eles são responsáveis pela vida e pelo clima que temos
hoje. Se os alterarmos, nosso habitat terrestrre vai ser afetado e isso
vai afetar as gerações futuras”, conclui Muelbert.
Sem comentários:
Enviar um comentário