11 de abril de 2014

Sérgio Monteiro tem “invulgar espírito de missão e de serviço público”

O sector marítimo-portuário precisa de uma Autoridade da Mobilidade e Transportes (AMT) dirigida por quem conheça o sector e tenha experiência de regulação noutras áreas, defende o presidente do Conselho Português de Carregadores (CPC). Em declarações ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS, Pedro Viegas Galvão fala das expectativas que tem sobre a renegociação das concessões portuárias, insiste na necessidade de haver maior transparência na factura portuária e termina com elogios e um voto de confiança no secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro.
T&N – Que balanço faz do Seminário do CPC [realizado há dias e sobre o tema da regulação no sector marítimo-portuário]?
Pedro Galvão - Foi um balanço extremamente positivo. Ficou demonstrado o grande interesse do sector numa regulação interveniente e activa, como sucede noutros sectores (como nas Comunicações). As apresentações dos professores João Confraria e Amado da Silva foram o “abrir de portas a um novo mundo “ de regulação que o sector merece e exige.
T&N – Que principais mensagens retirou da sessão, que devam ser escudas pelo Governo e pelos concessionários?
Pedro Galvão - A urgência na entrada em funções da AMT, com um Conselho de Administração conhecedor do sector mas também com provas dadas na regulação de outros sectores. Pior que a não existência de regulação, só a existência de uma má regulação.


T&N – No entender dos carregadores, que objectivos concretos deverão ser atingidos com a renegociação das concessões portuárias?

Pedro Galvão - A renegociação das actuais concessões deverá produzir efeitos na economia, no aumento de eficiência, na redução da factura portuária paga pelos carregadores: são esses os objectivos da renegociação definidos pelo despacho.
Para medir e confirmar que os objectivos são alcançados, deverão ser criadas métricas ou indicadores para avaliar quem, como, quando e quanto se conseguiu com o processo negocial. Sem transparência e quantificação, será difícil obter a aprovação final do Tribunal de Contas.  
T&N – Fala-se muito das rendas pagas às administrações portuárias. Mas também se fala da necessidade de garantir às AP capacidade de investimento. A renegociação das concessões passa apenas pelas rendas?
Pedro Galvão - Haverá vários instrumentos à disposição dos concessionários e dos concedentes, as AP, sendo cada concessão um caso. As rendas variáveis, as rendas fixas, os investimentos em equipamentos móveis, os investimentos em equipamentos fixos, nos cais e terraplenos, nas dragagens.
Ambas as partes deverão encontrar, como em qualquer processo negocial, soluções em que beneficiem ambas, sendo a preocupação por parte da concedente, da AP, o aumento da competitividade do porto, que por sua vez aumentará volume, dando por seu lado aumentos sucessivos de volume.
A redução de rendas por tonelada movimentada poderá ser encarada como temporária, mas progressivamente recuperada pelo aumento do volume movimentado, que por sua vez trará mais receita. O movimento registado nos portos portugueses aponta justamente nesse sentido: o aumento de volume de mercadorias, que necessariamente traz mais receitas às AP e aos concessionários. A diluição dos custos fixos deve ser repercutida na economia e nos carregadores, de forma a estimular mais movimento, mais carga, mais exportações.
T&N – Nos terminais de contentores diz-se que as reduções de rendas só beneficiarão os armadores. Quer comentar? Como ficam aí os carregadores?
Pedro Galvão - Se os resultados das renegociações forem para benefício dos armadores, terão fracassado.
Pensamos ser fundamental nas concessões de terminais de contentores haver mais transparência na factura portuária, que neste momento se resume sobretudo ao THC. O ideal seria que na factura a pagar pelo carregador constassem as várias componentes do custo contentor, das quais as mais importantes são a movimentação no terminal, estiva, pilotos, reboques e agentes.
A dificuldade da resposta a esta pergunta seria menor com a existência de um regulador forte e, por definição, bem informado de todas as componentes do custo e da rentabilidade dos concessionários.
O que nos parece difícil no sector portuário é o dia-a-dia no sector das Comunicações: progresso tecnológico, alteração de condições, alteração de custos e, logo, alterações de preços ao consumidor. Para isso é necessária muita informação, direi mesmo TODA a informação, relativa aos concessionários e concedentes, de forma a optimizar a eficiência para a economia, maximizar a utilidade dos meios marítimo- portuários para os carregadores / utentes / clientes.  
T&N – As concessões de uso privativo ficaram de fora desta renegociação. Concordam?
Pedro Galvão - Confesso alguma surpresa quando saiu o despacho. Contudo, quando colocada a questão ao Governo, fomos informados que estas renegociações de concessões de terminais para uso privativo ficariam para uma segunda ronda, após a primeira ronda com as concessões de uso publico que têm um prazo de três meses.
Contamos, pois, com a nomeação até Julho das comissões de renegociação das concessões de terminais de uso privativo para após esta data se dar inicio à renegociação, que se antevê menos complexa, pois o concessionário de uso privativo coincide com o carregador, isto é, os ganhos de competitividade não correrão o risco de ser capturados através da cadeia logística, sem chegar à economia.
T&N – A redução da factura portuária, que deveria ser de 25-30%, ficou-se pelos 2%, segundo os números do CPC. O que falta?
Pedro Galvão - A monitorização da factura portuária foi encomendada pelo CPC aos professores Eduardo Cardadeiro e Amado da Silva. Os números não são do CPC mas representaram, no período em estudo, cerca de 54 % do volume total de carga. A redução da factura portuária foi de 2% entre Junho de 2012 e Junho de 2013.
Desde essa altura, a Lei do Trabalho Portuário entrou plenamente em vigor (em Fevereiro de 2014), a TUP Carga foi abolida, foram congelados os tarifários portuários em 2014 e a renegociação das concessões começa agora. A nova monitorização, prevista para Junho de 2014, esperamos, irá evidenciar novas reduções da factura portuária.
Fica a faltar:
a) A renegociação das concessões dos terminais de uso privativo; cujos concessionários são na maioria empresas industriais, com forte componente exportadora, que não poderão ficar de fora do processo de aumento de competividade;
b) A alteração da governança dos portos, por forma a serem obtidas sinergias na gestão portuária (partilha de back-office, aquisição de bens e serviços), para reduzir custos e aumentar a eficiência,
c) A revisão do tarifário dos portos, que reflicta uma verdadeira estratégia nacional, um tratamento homogéneo de situações iguais em portos diferentes;
d) A implementação das medidas não estruturais do GT-IEVAS, aplicadas aos vários meios de transporte, em particular à rodovia e no sector marítimo-portuário;
e) Os contratos de concessões de nova geração, para promover a concorrência, através de atribuição de licenças e concessões a mais operadores e mais prestadores de serviços, como o serviço de reboques.
T&N – A agenda do Governo para rever o modelo de gestão e de regulação do sector é muito apertada…
Pedro Galvão - Falta cerca de ano e meio até ao final da legislatura. O Ministério da Economia tem sublinhado que a reforma é para chegar ao fim e que o Plano 5+1 de reduzir a factura portuária deverá alcançar os seus objectivos.
O secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, Dr. Sérgio Monteiro, tem provado a sua determinação em ultrapassar os obstáculos e dificuldades, lutando contra interesses corporativos enraizados, evidenciando profundo conhecimento dos dossiers e invulgar espírito de missão e de serviço público. Essa determinação leva-nos a crer que levará a bom porto os objectivos definidos pelo Governo.

 

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