13 de fevereiro de 2012

A reconfiguração da barra do porto de Aveiro

Monitorização do efeito da intervenção é fundamental para avaliar desempenho efetivo, acompanhando impactos na zona, dentro da laguna e zonas costeiras vizinhas.
Carlos Coelho *
A Administração do Porto de Aveiro está a iniciar uma intervenção que pretende mitigar alguns dos problemas de operacionalidade que o porto enfrenta atualmente. A alteração da configuração da barra deverá melhorar as condições de navegação, permitindo o tráfego de navios de maior dimensão, em condições de segurança e, tanto quanto possível, sem limitações meteorológicas ou de maré. A intervenção contempla o prolongamento do atual molhe Norte numa extensão de 200m, segundo o alinhamento do troço final da obra existente, a dragagem de um novo canal exteriormente aos molhes, com uma ligeira rotação para Sul relativamente ao atual alinhamento, e a deposição dos dragados numa zona de praia submersa, compreendida entre o 3º e o 5º esporão, do campo de esporões da Costa Nova.Esta intervenção terá impactos na hidrodinâmica sedimentar e costeira, com implicações no canal da barra, no corpo interior da laguna, e na área costeira que engloba as praias adjacentes, a Norte e a Sul. Como os estudos desenvolvidos no âmbito do projeto indicam, é provável que a solução proposta não provoque alterações significativas do prisma de maré, nem dos caudais que atravessam a secção da barra, pelo que os impactos no interior da Ria de Aveiro devem ser de pequena dimensão. No entanto, no litoral costeiro, o transporte sedimentar será afetado pelo maior comprimento do molhe Norte, prevendo-se a acumulação de sedimentos na praia de S. Jacinto. Durante o enchimento desta praia haverá um agravamento do já existente défice de sedimentos nas praias a Sul. Por isso, e de acordo com o previsto, é importante que os dragados de estabelecimento do canal de navegação e os provenientes da sua futura manutenção não sejam retirados do sistema costeiro, mas sejam efetivamente repostos a Sul da embocadura.


Apesar de todos os estudos, a capacidade técnica e científica de antecipação de comportamentos que conjugam uma diversidade de fenómenos complexos e variáveis (hidrodinâmicos e morfodinâmicos) é ainda limitada. Assim, a planeada monitorização do efeito da intervenção é fundamental para avaliar o seu desempenho efetivo, acompanhando os impactos na zona da intervenção, dentro da laguna e nas zonas costeiras vizinhas, incluindo os efeitos na evolução da linha de costa a Sul do porto, onde a erosão costeira se tem feito sentir de forma significativa. A erosão resulta de um generalizado balanço sedimentar negativo no litoral português e é agravada nesta zona, pela barreira à deriva litoral que os molhes representam. Os planos de monitorização devem avaliar a posição dos sedimentos ao longo do tempo, identificando volumes na deriva e eventuais perdas para maiores profundidades.

O porto de Aveiro tem uma implantação importante nas atividades e na economia da região, necessitando assegurar a sua competitividade operacional para manter esta posição. No entanto, também tem responsabilidades para com a região, pelo que deve zelar por um desenvolvimento sustentado. A deposição de dragados a Sul, a monitorização e o contínuo acompanhamento dos impactos do prolongamento do molhe Norte, durante e após a realização da obra são medidas previstas, que poderão auxiliar na clarificação e definição dos benefícios e custos que este tipo de intervenções tem, numa região como Aveiro.

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