Portugal foi o segundo país do euro a exportar mais bens no primeiro trimestre de 2012.
Nos últimos meses, Portugal destacou-se nos boletins mensais do Eurostat por razões bastante diferentes. Se por um lado a economia parece cada vez mais 'presa' numa das mais fundas e prolongadas recessões da Zona Euro, por outro as exportações atingem máximos históricos e ganham vantagem clara perante a grande maioria das economias da união monetária. Os números mais recentes do organismo de estatísticas da União Europeia mostram que as exportações portuguesas cresceram, em Maio, 8,4%, o que deixa Portugal como o segundo país que mais cresceu em matéria de exportações. Mas este aumento resulta exclusivamente da grande subida homóloga das vendas para fora da UE, de 31%. De onde vem este vigor inesperado, que, juntamente com uma quebra histórica no consumo interno, já fez com que a balança comercial atingisse um equilíbrio inédito? Uma boa parte da resposta está na desvalorização do euro, que tem estado a perder terreno desde a recta final de 2011, pressionado pela crise da dívida e pelos receios de uma eventual fragmentação da união monetária. Foi nesse período que o comportamento das exportações para fora da Zona Euro "descolou" da evolução das vendas para o mercado único, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em Maio, a diferença nas taxas de crescimento relativas atingiu uns inéditos vinte pontos percentuais. Mas a questão cambial não explica tudo. Isto porque, se esta é uma benesse partilhada, o resto da Zona Euro não está claramente a beneficiar tanto como Portugal da desvalorização do euro - pelo menos, se a situação for avaliada através da evolução das exportações para fora do mercado único. Mas é mais difícil perceber de onde vem o "mérito próprio" da economia portuguesa Ganhar quota de mercado não é fácil nas actuais circunstâncias, e vários economistas - entre os quais os técnicos do FMI, OCDE e Comissão Europeia - têm demonstrado algum espanto com estes números.
É possível que Portugal beneficie mais devido, caso se conclua que as suas exportações são, em geral, mais sensíveis; ao factor preço do que à marca ou à qualidade.
Mas alguns apontam para a redução dos custos salariais, que está em marcha desde há alguns trimestres e já provocou uma severa compressão da fracção do PIB que acaba no bolso dos trabalhadores (um movimento que se deverá agravar pelo menos até 2013, segundo a Comissão Europeia).
A grande questão é: foi suficiente? Na sua última análise à economia portuguesa, a troika dizia que as remunerações tinham caído de forma muito moderada, e bem menos do que em economias, como a Irlanda, com "performances" exportadoras bem piores. A questão salarial está longe de explicar tudo.
Uma coisa é certa a força das empresas exportadoras já fez a grande maioria das organizações internacionais alterarem as suas previsões macroeconómicas. Na última revisão do programa de ajustamento, a própria troika tirou 0,2 pontos percentuais à recessão de 2012, apesar de o consumo privado e investimento terem sido revisto em baixa.
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