Para comemorar o Dia Internacional da Mulher (08/03) o site PortoGente conversou com uma autêntica esposa de estivador. A personalidade é forte como a de um trabalhador do porto. Ela mesma se intitula “mais portuária do que muito estivador”. Débora Margarete Carvalho dos Santos, de 49 anos, é paulistana e há 20 anos conheceu o estivador Marco Antônio Bonfim, atualmente 2º secretário do Sindicato dos Estivadores de Santos, com quem está casada e compartilha da vida portuária.
"A gente se conheceu na praia. Eu fechei o meu carro com a chave dentro e ele vendo minha dificuldade, veio me oferecer ajuda. Disse que era estivador e que trabalhava com carro e, portanto, poderia me ajudar. E aí eu perguntei o que é estivador? Assim, começou a nossa história".
Débora nunca tinha ouvido falar dessa profissão. Precisou se familiarizar com o ambiente e rotina do trabalho portuário. “Quando conheci o Marco, eu me assustei com a maneira dele viver, a forma que os estivadores trabalhavam que ainda era na base do grito. Comecei a me interessar, a ler. Eu ia nas paredes e comecei a me encantar com a maneira que aqueles trabalhadores viviam e defendiam o seu dia a dia. Me assutava muito. O Marco saia de casa limpinho, cheiroso e voltava em outro estado. Aí, fui começando a conhecer, o que foi me causando simpatia pela classe”.
A dona de casa relembra que há duas décadas, o estivador tinha outro prestígio e respeito pela sociedade. “Antigamente quando você chegava em uma loja, quando falava que o marido era estivador, eles jogavam tapete vermelho nos nossos pés e queriam vender a loja toda se fosse possível. Hoje você vê que ao falar que é mulher de estivador é preciso cuidado porque o estivador está marginalizado. Tempos atrás, o estivador tinha crédito, era tido com um bom vivant porque o campo era melhor. Quando vim para cá o emprego mais almejado era o de portuário, principalmente estivador”.
Ser mulher de estivador não é fácil, conta. Sofreu muitos preconceitos e sentiu a categoria ser injustiçada inúmeras vezes. Ativa, a dona de casa encabeçou a greve da Cosipa ocorrida no governo Telma de Souza e, até hoje, se pudesse, arrastava as mulheres para acompanhar seus maridos. Diante da perda da força da classe, Débora nunca deixou de estar ao lado do marido na luta dos estivadores.
Orgulha-se em conhecer o Porto de Santos muito mais do que os jovens iniciantes. “Hoje fico triste porque tudo aquilo que foi feito anos atrás hoje está se perdendo por falta de conhecimento. Eu acredito que hoje o estivador não sabe o que significa a carteira preta, não sabe o que significa defender o trabalho”.“
Graças à estiva, comprou sua casa e conseguiu criar a filha, hoje com 33 anos. Avó de quatro netos, Débora explica que a maioria das mulheres de estivadores desconhece o ofício.”Eu insisto na tese de que a mulher do estivador deve participar mais da vida do seu esposo profissionalmente para entender o que acontece e quando chegar no momento, em alguma situação em que alguém falar do estivador, ela tenha como defender. No meu ponto de vista algumas mulheres são alienadas e há pouca informação dos seus maridos do que realmente acontece. Há também um pouco de desinteresse e isso se deve a fama machista que a maioria dos estivadores ainda tem.
Os tempos do cais santista são outros, principalmente, no que diz respeito ao trabalho dos estivadores. Ela relata que para ser mulher de estivador atualmente é necessário planejar uma nova forma de vida. “Antigamente a gente comprava um fogão e sabia que em uma semana o marido conseguiria o dinheiro no trabalho. Hoje a coisa é diferente, temos que nos planejar”.
Débora, resume em poucas palavras como deve ser o perfil de uma esposa de estivador. “Para ser mulher de estivador tem que ser perseverante, o menos burra possível, e saber que ser estivador hoje não é mais o que foi em outrora. A mulher deve fazer uma recliclagem de valores para se manter”.
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