14 de setembro de 2010

A AMIZADE


Jamais perdi um amigo
Só a morte o levou
E vivo o deu ao eterno
E vivo a mim o deixou

Com este poema de Agostinho da Silva, professor e filósofo, ensaísta e novelista, orador e investigador, que nos deixou em 1994, abro a minha crónica de hoje.
Sou um indivíduo que aprecio e prezo uma boa amizade; continuo a fazer amizades e a valorizar-me com elas. Mas a vida ensinou-me que a tarefa mais difícil é recuperar aquelas amizades que perdemos. Erguer de novo é uma tarefa complicada e difícil, sobretudo quando somos julgados culpados dessa perda e não merecedores de perdão; quando nos fecham as portas para uma reconciliação. Talvez, por isso, partilhe convosco este tema e os meus desabafos.
É uma prática aliciante e universal descobrir novas amizades, basta vontade, comunicabilidade e criatividade; preservar amizades já implica sabedoria, dedicação e compromisso.
As amizades surgem de forma espontânea com sedução ou empatia. Ninguém pode programar escolher amigos num futuro próximo ou em algum lugar especial.
As circunstâncias da vida, os palcos da nossa vivência, o mundo à nossa volta, a necessidade de comunicarmos uns com os outros são factores que abrem as portas para as nossas amizades.
A vida afectiva é um caminho de conhecimento. As amizades são portas abertas que nos convidam a entrar na nossa intimidade e explorar a nossa maneira de ser, na esfera sentimental e na relação com os outros.
A literatura, a música, o cinema e até a natureza oferecem-nos estímulos que despertam e valorizam os nossos sentimentos, para, deste modo, oferecermos aos outros pedaços de nós mesmos e podermos partilhar com alguém nossos sonhos e nossos desejos.
Podemos dizer: eu amo a minha casa; e a casa está lá para me oferecer conforto, como bem material, do qual estou a usufruir, moldada à minha personalidade e estimada com todos os objectos que lá possuo. Podemos amar todos os seres vivos e até coisas como bens materiais,
As sociedades crescem e evoluem, não com ideias ou doutrinas, mas com a acção dos agitadores de sentimentos, porque não há nada mais criativo do que o amor, ou acto de amar, diferente de época para época, mas constante na vontade, no compromisso e na fidelidade, nos seus íntimos e nobres propósitos.

O ser humano de hoje é mais problemático do que nunca. Os imensos conhecimentos que lhe oferecem o progresso e ciência moderna não o ajudam a desvendar as suas dúvidas existenciais e por isso continua a carregar demasiado sofrimento, não encontra resposta para a sua condição e se sente perdido.

São quase uma dúzia o total de colegas afastados da sua actividade profissional por motivos de saúde. Especialmente a estes, abraço muito caloroso, com votos de rápidas melhoras e muita coragem para a vossa difícil condição. Força companheiros! E não se acomomodem a uma vida sem amigos! Os amigos são o sal da terra!

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