13 de junho de 2010

RETRATO DE UM PORTUÁRIO – ENCARREGADO 51

No longíquo dia 29 de Outubro de 1988, houve um almoço, no restaurante Abílio Marques em Bonsucesso, do qual participei como convidado, num repasto que reuniu 20 portuários de Aveiro.
O anfitrião da reunião foi o Sr. Raúl Gomes Ferreira, que juntou alguns amigos para com ele comemorarem o seu novo estatuto de cidadão aposentado, depois de muitos, muitos anos de trabalho em diversas e duras actividades.
No Porto de Aveiro, onde trabalhou cerca de 20 anos, o amigo Raúl, deixou aos mais novos a imagem de amigo verdadeiro, respeitável colega e profissional competente. A sua figura de encarregado era impar! A estima e a admiração que aqui deixo pode ser partilhada por outros colegas estivadores e conferentes. Dos encarregados ao pessoal dos quadros das empresas todos apreciavam e distinguiam a sua colabração profissional e humana.
No final daquele almoço, levantei-me e dirigi-me ao amigo Rául com uma folha de papel na mão, onde tinha dactilografado, na IBM eléctrica lá do Sindicato, a minha homenagem lírica.
Passados estes quase 22 anos, aqui no Blogue “Estivadores Aveiro”, muito me apraz poder repetir o singelo tributo a um dos encarregados que fez uma boa escola no Porto de Aveiro. (Sobre a difícil missão do encarregado, voltarei proximamente).
Aqui deixo o meu retrato do “Encarregado 51”.
                                                                                  
Trouxe consigo a evolução do cáis.
Do trabalho mais suado, ao de agora,
Do navio incerto, às ordens tais,
Que o contrato era verbal e pago à hora.

Dia-a-dia mostrou ser
O que do Homem é dever
Personalidade forte e carácter.
Amigo e companheiro todos o podiam haver.

No trabalho foi sempre igual:
Com método, segurança e mestria,
Soube dirigir, cumprir e ser leal.
A todos nós marcou com sabedoria.

Com chuva, noitadas, vento e frio.
Ele e nós no trabalho duro, dava gosto vê-lo
Presente, pronto, atento e timoneiro,
Com sua coragem, nos motivava segui-lo.

Quem o queria escutar, seu tempo não perdia,
Se corrigia, era frontal e sempre pela certa;
À chamada, em tom castiço, nosso cartão pedia.
De resto, era ouvinte atento às historietas da Berta ...

Por graça, com graça respondia,
No momento certo seu mote metia,
Assim competia, quando outros perdiam,
Estava como queria e todos o ouviam.

No passado da censura apertada e fascista,
Lutou na primeira fila: todos queriam um Sindicato.
Para isso dedicou empenho, luta e coragem;
Ao “não” de Leixões, ao “sim” de Viana, foi gabarito
Daqueles companheiros que se opunham à vassalagem.

Chegou a hora da reforma, é a sua vez,
Vai o amigo Raúl, gozá-la agora e com satisfação.
Em casa muito carinho para ela, pois Deus vê,
Fora os amigos e estar a tarde com eles, pois então!

            Aveiro, 24 de Outubro de 1988    44+Cem

1 comentário:

Anónimo disse...

Um bom colega,que respeitava e fazia respeitar. Um líder da equipa de trabalho que respondia por ela.Para ele um grande abraço.
A.Júlio