Noites de primavera. Longas e
frias. Quase dois meses se passaram com muita chuva à mistura. Estas temperaturas
baixas que depressa fazem gelar as mãos, principalmente quando se trabalha
debaixo de chuva, só me fazem sentir bem em casa, e, a ouvir música em completa
harmonia comigo mesmo. Mas lá diz o ditado, quando tem de ser…tem de ser. E num
desses dias, dei por mim a sonhar. Sonhos que se organizavam em atividades
variadas de trabalho de estiva, trabalho esse que só percebi que não o tinha
realizado, no dia seguinte, quando acordei. Fui-me apercebendo que já tinha
sido despedido e nem cheguei a perceber o porquê. Dei por mim em casa. Fui
fazendo pela vida. Não só por fora de casa mas também dentro. Fui pondo as
minhas pautas em dia, pelo menos deu para voltar a treinar as músicas no
teclado. Fui deslizando os dedos nas teclas ao ritmo da música do saudoso Carlos
Paião com a bonita canção “Cinderela”. “ Eles são duas crianças a viver esperanças
a saber sorrir….ela tem cabelos louros…ele tem tesouros para repartir….”
Bem, vocês conhecem a música. Muitas viagens da sala para o escritório do
escritório para a sala etc. Sempre em constante consulta na net, deixei o MSN,
fiquei fã do SKYPE. Iniciei a leitura de um livro, que me chamou a atenção pelo
seu título “O TEMPO DOS IMPERADORES
ESTRANHOS”. Livro este que começa por contar a morte de um soldado da
Divisão Azul que é encontrado sem vida num lago gelado, degolado e com uma
enigmática frase gravada no seu peito: “Mira
que te mira Dios…” A Divisão Azul era uma unidade de combate do
exército espanhol que foi lutar ao lado dos alemães. Sargento Espinoza e Arturo
Andrade estão encarregados de encontrar os culpados e as causas de tais crimes.
O desvendar de tal crime, não esta a encontrar facilidades da parte de uma
cúpula militar cheia de segredos. Pelo que sei do livro, será o primeiro de uma
cadeia de crimes, tão brutais como desconexos. E lá vou eu de bem com o livro.
Este livro vai-me fazendo lembrar que, compreender que há outros pontos de
vista, é o início da sabedoria, e que a humildade é colocar-se à prova. E lá
voltaram os sonhos. Sonhei que um dia, passaram por mim abutres em forma de
pessoas que tinham a tendência de erguer montanhas de palavras para se
protegerem do vazio, para não chamarem a atenção indelével da censura. A sua ignorância
era enervante. Faziam passar a ideia que as coisas parecem aquilo que queremos
que pareça, e guiavam outras pessoas de maneira suicida. Mas ao mesmo tempo,
também uma voz me soprava ao ouvido e dizia: “olha que só se deixa guiar de maneira suicida quem quiser”. No
entanto, ao mesmo tempo outra voz me dizia: “embora acreditamos ser livres e pensamos que nos podemos mover e fazer planos,
nada mais errado, é preciso ter cuidado. As escolhas devem sempre ser feitas
por nossa cabeça, mas com cuidado, pode aparecer alguém pelo meio a dizer que
assim esta mal, e tenta-nos fazer a cama”. Acordei, comecei a acreditar que
ia deixando o caminho das incertezas e ia trilhando o das certezas. Não que
esteja a dizer que qualquer coisa sirva para associar melhores dias, não que
esteja a ser desordeiro e individualista, mas acho que tenho de procurar algo
que me dê uma orientação melhor, isso acho. Também nunca escondi a minha
posição atrás da saia de ninguém. Por razões várias e depois de conversar com
outros colegas dinamizadores do blog, achamos que este sítio deve continuar, e vai
ser com o maior prazer que alguém vai continuar a fazer chegar o que puder aos
nossos leitores. Eu digo o que “puder fazer” chegar, pois quando este blog
deixou de ser o “blog” e passou a ser
o “nosso
blog” as coisas ficaram mais controladas. E nem tudo era bem-vindo ao
reino. No entanto fica decidido que o blog vai continuar a dinamizar o porto de
Aveiro. Fica o meu muito obrigado a todos os que nos tem acompanhado através
desta página. Espero também ter correspondido a todos os que pediram informações
várias através desta.
Estarei sempre disponível para
publicações neste blog, visto que é vontade dos outros dinamizadores, por
agora despeço-me dos meus amigos que ficam no porto de Aveiro.
Digo amigos, porque sei que os
tenho, e que não estou sozinho. De resto, tudo isto não passaram de sonhos, não
fiquem assustados. Em relação ao livro, ainda só vou no início, e do que já
pesquisei, os restantes mortos vão aparecendo com intrigantes frases escritas
Mira que te
mira Dios;
mira que te está mirando;
mira que vas a morir;
mira que no sabes cuándo.
mira que te está mirando;
mira que vas a morir;
mira que no sabes cuándo.
Cumprimentos
a todos, e até uma próxima oportunidade se a tiver.
08
4 comentários:
Nada que não se estivesse á espera quando um Sindicato se substitui aos patrões.Vergonha do sindicalismo portuário o que se passa em Aveiro,devia ter vergonha e demitir-se quem se arvora em dirigente e alinha nestes preparos já refutados pelo insuspeito Fernando Gomes.Tudo se vai resolver e bem,tenho a certeza,e depois veremos como vai ser agora que falta o apoio "a Sul".Um abraço de solidariedade para os camaradas despedidos.
Augusto em leixões
Obrigado pela solidariedade companheiro Augusto.
Deixe que lhe diga que, aqui por Aveiro sempre fomos ouvindo dizer que Leixões amordaçava os seus trabalhadores e que estavam proibidos de falar etc...
Agora imagine o que se faz por aqui aos trabalhadores que não partilham as ideias de quem quer mandar. Tenho conhecimento que alguns trabalhadores já se dirigiram aos patrões a dizer que se tinham arrependido de não se terem candidatado à nova empresa que parece que vai aparecer em Aveiro. Não dá para se livrarem destas pessoas, pois elas não se demitem e os estatutos não são alterados, de maneira a que possam aparecer mais listas para se candidatarem ao sindicato. Eu diria que isto anda tipo uma maioria norte coreana. Quem quer, quer, quem não quer "olho da rua".
Foi o que se passou já com alguns colegas de trabalho. Inclusive eu.
Abraço
O.Miguel
Eu sou uma prova disso mesmo, ao fim de 12 anos como trabalhador precário a trabalhar ao dia decidi enviar uma candidatura para um anúncio que pedia trabalhadores portuários que afinal de contas é a única coisa que sei fazer, de imediato comecei a ser descriminado chegando ao ponto de telefonarem a trabalhadores a pedir que fizessem horas extras para eu não ter acesso ao trabalho, depois de 10 anos como sócio do sindicato fui pedir explicações ao sindicato ao que este me respondeu que e passo a citar "o sindicato não dá nem tem que dar explicações a ninguém", felizmente aqueles que são realmente os nossos patrões ou seja as empresas de estiva aperceberam-se e ajudaram me dando me novamente acesso ao trabalho e um contrato claramente bem melhor , por isso hoje posso dizer aquele que era o meu sindicato na verdade era o meu patrão e o meu patrão foi o meu sindicato.
Obrigado Fábio,
não podia estar mais de acordo contigo. Pois foi pela mão dos patrões que eu também pude voltar ao trabalho, assim como outros 3 colegas meus. E quando este sindicato dizia que os meus interesses não eram os mesmos que os restantes sócios, nada mais errado, visto que este sindicato terá já perdido talvez mais de 50% dos sócios. Enfim, era este sindicato que se dizia o sindicato modelo.
Sem palavras.
Abraço
O.Miguel
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